domingo, 15 de dezembro de 2013

Transforma-se o amador na coisa amada - Luiz Vaz de Camões (1524-1580)



Eros e Psiquê -  Escultura de  Antonio Canova (1877-1894)


Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.
                   Luís de Camões

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